segunda-feira, 2 de março de 2009

Fanzine

Definição


Fanzine é a contração das palavras inglesas fanatic e magazine, em português, magazine do fã, ou revista do fã. É uma publicação amadora, sem fins lucrativos, em geral de pequena tiragem impressa em fotocópia ou impressão a laser. É editado e produzido por indivíduos, grupos ou fãs-clubes de determinada arte, podendo estender-se a personagens, personalidades, passatempos ou gênero de expressão artística, para um público dirigido.

A característica principal do fanzine é de ser uma publicação reflexiva, crítica, analítica, no entanto, há quem considere como fanzine qualquer publicação independente, que circule fora do mercado editorial. Para a difusão e venda, o fanzine pode ser encontrado em livrarias ou bancas especializadas, ou circular pela via postal.

Como publicação, o fanzine diferencia-se da revista independente e do boletim. A revista veicula a produção artística, sem se deter em análises de conteúdo ou priorizar matérias textuais. O boletim é o veículo de grupos políticos, de militantes, de entidades de classe, empresas, associações, ONG etc.



Elementos dos fanzines


O editor

A primeira idéia que se tem ao folhear um fanzine é que, pela simplicidade, sua produção está acessível a qualquer um, bastando para isso ter interesse e disposição, ser fanático por alguma arte ou dispor de uma coleção de gibis. Na verdade é isso mesmo: o processo de produção de um fanzine depende só da boa vontade de quem o faz. Mas, se aparentemente é muito fácil fazer um fanzine, a realização de um bom fanzine exige muita dedicação e uma razoável compreensão do processo editorial, que envolve várias etapas, desde a coleta do material até a encadernação e distribuição.

Por ser um trabalho de caráter pessoal, o editor de fanzine ou de qualquer publicação independente acaba por dominar todas as etapas de produção: redigir ou escolher os artigos, selecionar as ilustrações, digitar, diagramar, imprimir, intercalar, grampear, divulgar, distribuir e vender. Quando o fanzine resulta de um trabalho de grupo, em geral não se tem uma clara divisão de tarefas, como numa empresa editorial. De certo modo, cada membro do grupo domina todas as fases da produção. E aqui não falamos dos pequenos folhetos ou boletins, que acabam sendo a maior parte dessas publicações, mas dos fanzines que procuram nivelar-se em qualidade gráfica às revistas especializadas.


Expediente

Mesmo sendo publicações amadoras e de circulação limitada, algumas referências são imprescindíveis à edição dos fanzines, como a qualquer revista do mercado. No expediente deve constar o nome dos responsáveis, o número, a data, o endereço, os colaboradores. Pode-se acrescentar ainda o tipo de impressão e o número de exemplares. Esses dados, além de enriquecer o fanzine em nível de informação, são essenciais para quem estuda o desenvolvimento dessas publicações. "Quer os seus responsáveis tenham consciência ou não, cada fanzine que sai é um documento e, como tal, convém personalizar as características que o revestem" (In Clubedelho n° 18. Portimão, Portugal: abril de 1990, p. 7.).


Escolha do tema

O primeiro passo para se fazer um fanzine é escolher o assunto que se quer abordar: música, quadrinhos, cinema, ficção científica etc. Dentro de um tema escolhido é necessário também definir o enfoque que se vai trabalhar. Como o fanzine é um trabalho feito por paixão, cujo interesse é a troca de informações e o enriquecimento do universo em estudo, é importante escolher um gênero pelo qual se tenha verdadeira motivação, de modo que não seja um sacrifício o tempo e o dinheiro empregado em sua elaboração.

Ter domínio do assunto e acesso às informações é fundamental. Se o gênero que se vai trabalhar é nostalgia dos quadrinhos, uma boa coleção de revistas é imprescindível. Em geral, os que se dedicam a esse gênero são os leitores que viveram a época enfocada, dando aos fanzines o tom emocional que os tem caracterizado. Os jovens editores, em sua maioria, procuram divulgar os quadrinhos da atualidade, publicando trabalhos de novos autores e fazendo a avaliação das publicações do mercado e de outras publicações independentes.


O público

A relação com o público se dá por meio da seção de cartas e da troca e venda de fanzines. Boa parte do público é composta pelos editores de outros fanzines. Quem edita um fanzine costuma se manter informado sobre outras publicações congêneres, seja independentes ou comerciais. Alguns editores trocam fanzines entre si, mas esta prática tem se verificado cada vez menos devido à desigualdade e à irregularidade das publicações.

Muitas vezes o leitor é também colaborador do fanzine, enviando material para ser publicado, como artigos ou quadrinhos, poesias, contos, portfólios e ilustrações. As colaborações são gratuitas, visto que os fanzines não têm fins lucrativos e são um espaço para a divulgação de artistas amadores. Para o público é importante saber que pode participar da edição do fanzine e é essa inserção que dá vida à publicação. O envio de cartas e todo tipo de colaborações é sempre estimulado.

O público é, realmente, um elemento essencial na produção do fanzine. Para Edgard Guimarães, "esses leitores é que mantêm o ânimo dos editores para continuarem suas revistas. São uma parcela mínima da população, que valorizam os quadrinhos, especialmente os nacionais, e que, normalmente, são generosos nas apreciações que fazem de nosso trabalho" (Edgard Guimarães, in Psiu n° 2. Brasópolis, MG: agosto de 1985, p. 57.).

A seção de cartas dos fanzines é também o espaço de comunicação do público entre si, onde as divergências de opiniões por vezes geram polêmicas acirradas que duram várias edições, como ocorre no fanzine QI, de Edgard Guimarães, de Brasópolis, Minas Gerais. Este debate é muito estimulante para o fanzine e para os leitores.


Formato

A maioria dos fanzines tem seu formato condicionado ao pro¬cesso de impressão. Como é comum se usar fotocópias, os fanzines mantêm o formato ofício (21,6x33cm) ou meio-ofício (16,5x 21,6cm), com a folha dobrada ao meio, ou ainda o formato A4 (21x29,7cm) e A5, que é o A4 dobrado ao meio. Os fanzines podem ter o sentido vertical, que é o mais comum, ou horizontal. O horizontal é muito raro, tendo como melhor exemplo o fanzine Historieta, de Oscar Kern, de Porto Alegre. Alguns fanzines não apresentam formato fixo, variando a cada edição, cujo exemplo mais marcante é O Pica-Pau, de Armando Sgarbi, do Rio de Janeiro.

A discussão em relação ao formato deu-se inicialmente pelas editoras comerciais, que por décadas tiveram a maior parte de suas publicações no questionado formatinho (13,5x19cm), o que trazia grande prejuízo à apresentação dos quadrinhos de aventuras, ricos em detalhes. Para os fanzines há quem defenda o formato meio-ofício pelo alinhamento que o grampo, colocado no meio da folha, dá à publicação e pela facilidade de guardá-los. Mas a principal razão alegada é a econômica.

César Ricardo dá a receita: "produz-se as matrizes no tamanho ofício, faz-se a redução das páginas inteiras, monta-se duas a duas de acordo com a paginação e xeroca-se normalmente; o custo de pré-produção sobe, mas o da cópia cai à metade. Se a tiragem for alta, vale a pena e não se perde texto. Se for baixa, fica o mesmo preço" (Cesar Ricardo Tomaz da SILVA. In Opinião n° 5. Porto Alegre: junho/julho de 1988, p. 11.).


Volume

É comum o fanzine não ter número de páginas definido. O mesmo depende da quantidade de material disponível, do tema abordado, do tempo livre do editor e do custo de produção. Alguns procuram fixar um número de páginas, mas não raro extrapolam ou reduzem a cota estabelecida. Há casos em que são publicados verdadeiros almanaques até com mais de cem páginas, enquanto outros não ultrapassam uma ou duas páginas. Em geral os fanzines não passam de 24 páginas.


Periodicidade

Mesmo que todos reconheçam que a periodicidade é um elemento importante para a manutenção do público, é comum que ela não seja cumprida. Com exceção dos fanzines de nostalgia, que se mantêm com uma regularidade admirável, os demais atrasam meses, ou anos, dando a impressão que deixaram de existir. Isso prejudica a continuidade editorial do fanzine. Cada nova edição acaba sendo um recomeço, em vez de uma evolução. Os que saem periodicamente costumam ser lançados três ou quatro vezes ao ano, espaço de tempo suficiente para a elaboração de uma nova edição.

A falta de periodicidade não deve ser creditada ao relaxamento ou desinteresse do editor. Como o fanzine é uma atividade diletante, ela está sempre encaixada nos espaços de tempo entre as atividades profissionais. A falta de recursos também pode ser um fator determinante para o adiamento de uma nova edição do fanzine.


Tiragem

A tiragem do fanzine tem relação direta com o tamanho de seu público, que pode ir de alguns leitores a uma centena, ou mais. Houve, contudo, fanzines que alcançaram tiragens bem maiores: Historieta chegou a sair com 2 mil exemplares; Notícias dos Quadrinhos, de Ofeliano de Almeida, do Rio de Janeiro, começou com 3 mil exemplares e caiu para mil; Quadrix, de Worney Almeida de Souza, de São Paulo, aumentou progressivamente sua tiragem - começou com duzentos e chegou a 450 exemplares (Worney Almeida de Souza, "Os bastidores dos fanzines", entre¬vista a Henrique MAGALHÃES. In Marca de Fantasia n° 3. São Paulo/Paraíba: dezembro de 1985, p.11-18.).

Valdir Dâmaso, editor de Jornal da Gibizada, afirma que um fanzine pode ter apenas um exemplar, simplesmente para o deleite de seu criador e para a satisfação de mostrar aos amigos (Valdir Dâmaso, entrevista a Marco Müller, in Mutação n° 8. São José do Norte, RS, janeiro de 1988, p.42, 43.). Para o colecionador Fábio Santoro, o editor de uma publicação independente pode ou não aspirar alto: "Fazer a sua mensagem chegar às mãos dos poucos interessados por mero idealismo, necessidade de dar sua parcela de contribuição ou vaidade pura; outros desejam crescer, batalhar pela tiragem cada vez maior junto ao público, obter uma crescente penetração, rumo à popularidade" (Fábio Santoro, "Panorama atual das publicações brasileiras independentes", in Jornal da Gibizada n° 14. Maceió: novembro/dezembro de 1986, p.3-7.).

A tiragem do fanzine vai depender da pretensão do editor em relação ao seu produto.


Referência

MAGALHÃES, Henrique. O rebuliço apaixonante dos fanzines. João Pessoa: Marca de Fantasia, 2003.

3 comentários:

DanielHDR disse...

Henrique! Quanto tempo! Legal achar seu blog!
Abraços!

Henrique Magalhães disse...

Caro Daniel, utilizo este blog para arquivar o conteúdo de minha disciplina no curso de Comunicação. Foi a forma que achei de socializar o conhecimento.

Hélia Márcia disse...

Olá, Henrique,

Sou professora de Língua Portuguesa e coordenei um telecentro por 4 anos. As mídias digitais me atraem muito, sem esquecer que as impressas são instrumentos bastante acessíveis nas escolas em que atuo em Belo Horizonte. Gostei muito do seu blog, suas dicas sobre fanzine são bastante pertinentes.

Um abraço

Hélia